Vamos
começar falando sobre as origens da festa. Existem, pelo menos, duas teorias para
a origem da expressão “festa junina”. A primeira que pode vir de São João,
através do título “joanina” e outra referente ao mês de sua celebração, junho,
portanto, “junina”. Embora não saibamos ao certo a origem dos termos, fato é
que há um personagem principal em todo esse período, o mártir cristão João
Batista, filho de Isabel e Zacarias.
Tudo
começou quando a Igreja cristã canonizou João Batista, a partir daí foram-lhe
conferidas duas honrarias: o título de santo, “São João”, e uma festa, a festa
de São João. Mas o que se celebra nessa festa? Com base no Evangelho de Lucas
1.26,36, João Batista nasceu seis meses antes de Jesus. Portanto, se o
nascimento de Jesus — o Natal — é celebrado em 25 de dezembro, logo o de João
Batista deveria ser celebrado seis meses antes, em 24 de junho. Em outras
palavras, a festa de São João, ou a festa junina, é o Natal de João Batista — é
claro que estas datas são simbólicas, pois não sabemos ao certo a data do
nascimento de Jesus, nem do Batista.
Por
outro lado, a velha Europa que recebeu o cristianismo já tinha sua própria
cultura. Uma das tradições mais conhecidas era o “midsommar”, o costume de
acender grandes fogueiras no solstício de verão (21 a 23 de Junho), a época do
ano em que o Sol incide com maior intensidade no hemisfério norte. Há registros
de que os Druidas e Vikings acendiam fogueiras em seus cultos de adoração e
também para espantar maus espíritos.
No
período de evangelização de tais povos, infelizmente, a Igreja Católica
inventou a história que Isabel acendeu uma fogueira para avisar Maria que João
tinha nascido. Assim, pouco a pouco as fogueiras se tornaram também um elemento
cultural da festa de São João Batista. Ainda hoje, a fogueira de São João é o
traço comum que une todas as Festas de São João Europeias (da Estônia a
Portugal, da Finlândia à França).
Quando
a festa foi trazida ao Brasil por intermédio dos imigrantes portugueses,
algumas mudanças aconteceram. A primeira delas e, talvez a mais importante, foi
a absorção plena da festa junina pela população rural. Por causa da grande
safra agrícola de Junho, as comidas à base de milho se tornaram indispensáveis
para a celebração, sem falar das roupas, músicas e instrumentos caipiras, as
danças de roda, quadrilha (de origem francesa) e as balas de Cosme e Damião,
que no imaginário popular da maioria, não passam de um patrimônio folclórico de
seus ancestrais.
Ainda
que haja aspectos religiosos na festa de São João, como o de fazer pedidos ao
santo ou oferecer comidas a ele, na maioria dos lugares, as festas juninas já
perderam o caráter de festa religiosa. A festa de São João (24/Jun) nada mais é
do que comer milho e dançar com família e amigos; a festa de Santo Antônio
(13/Jun), mais conhecida como o Dia dos Namorados, é um dia para dar presentes
para o cônjuge ou levá-lo(a) para jantar; já a festa de São Pedro e Paulo
(29/Jun), ninguém mais se lembra do que se trata.
Em
meio a toda essa história, levanta-se a seguinte questão: um cristão
protestante deve participar de festas juninas? Baseado no que já falamos até
aqui, podemos tirar três princípios práticos para a nossa vida.
Primeiro,
entendo que os cristãos protestantes não devem ir às igrejas católicas ou a
qualquer outro lugar onde haverá oração, rezas, missas e invocação de São João,
pois isso implicaria em culto idólatra e falso. Segundo, se você for convidado
para ir à casa de um amigo católico neste dia para comer milho etc., fique à
vontade para aceitar, desde que não haja atos religiosos ali presentes.
Terceiro, entendo que não há pecado nenhum em comer milho, pamonha, curau,
dançar quadrilha, ouvir música caipira e vestir xadrez, desde que tudo isso
esteja livre de vínculos religiosos. Acho que ser contra qualquer tipo de
festividade que tenha origem no catolicismo é uma posição complicada. Quem sustenta
tal posição deveria abster-se de celebrar também o dia dos namorados.
Finalmente,
livremo-nos de escândalos, confusões ou estresses desnecessários. Se algum
irmão que você conhece é contra festa junina, em todos os níveis, não o convide
para celebrar algo do tipo, preserve a paz. Oro para que tais festividades nos
ajudem a compreender melhor nossa relação com a cultura em que estamos
inseridos. Não somos do mundo, mas vivemos nele.
Nossa
tarefa é rejeitar aquilo que não combina com os princípios da Palavra e
desfrutarmos das coisas boas da vida com a consciência tranquila.
JEAN
FRANCESCO
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