domingo, 5 de julho de 2020

POR QUE A BÍBLIA ESCREVE OXALÁ

A palavra “oxalá” é o que a língua portuguesa define como interjeição. Trata-se de uma expressão utilizada para demonstrar sentimentos e emoções de maneiras diversas aparecendo, em geral, acompanhadas de um ponto de exclamação ou interrogação, sendo este último mais raro de ocorrer.
A sua utilização ocorre tanto no início como no final das frases, podendo ser composta de uma palavra ou ainda aparecer no formato de locução interjetiva quando, neste caso, será composta de duas palavras. 
Dada a maleabilidade da língua portuguesa, capaz de oferecer ampla exegese, a interjeição aplica-se com especificidade nos mais diversos momentos frasais, como nos exemplos a seguir.
Alegria: Ah! Oba! Aleluia!
Aprovação: Bravo! Bis! Viva!
Desaprovação: Credo! Sim! Pois não! Tá
Na esfera religiosa encontra-se uma figura de interjeição cuja prática e utilização por vezes gera espanto entre os leitores. Trata-se exatamente da grafia “Oxalá”, cuja etimologia encontra origem na língua árabe, com forte influência na língua portuguesa e tem o significado de: “Se Deus quiser”.
Neste sentido, observando-se a etimologia (in xã llãh) de origem árabe não se encontram dificuldades quanto a significância ou a aplicação da palavra. 
Oxalá como termo religioso
 
Como se sabe, no Brasil, é possível ter palavras com a mesma pronúncia, porém, com significados diferentes, o que no caso em questão denomina-se como “palavra homônima”, ou seja, possuindo a mesma grafia, porém com significados diferentes.
É neste condão onde, por vezes, surgem os desentendimentos quanto a utilização da palavra oxalá, isto porque ela também é utilizada como substantivo masculino, representando para a umbanda uma divindade superior entre os orixás (Orixa-n-la).
Apesar da pronúncia e da grafia, apresentar-se de forma idêntica (homônima), é certo que a sua aplicação ocorre de formas dispares, não representando nenhuma ligação entre um e outro, estando inclusive, separados diante da semântica e da morfologia linguística portuguesa. 
Oxalá na bíblia 
A bíblia, como se sabe, é um conjunto de livros, escrito ao longo de dois mil anos e por aproximadamente quarenta pessoas. Neste sentido, ao longo destes milênios, a sua construção exegética passou por diversas adaptações aos fatores históricos e sociais relativos ao momento em que estava sendo escrita.
Neste sentido a grafia oxalá, pode não ser necessariamente uma transliteração original nos termos aramaicos, hebraicos e gregos, mas sim a aplicação de uma hermenêutica transliterada ao fim social no qual se pretendia amoldar o entendimento para um público distinto em uma época ou região.
Neste caso em específico a interjeição oxalá aparece como uma adaptação exegética utilizada pelos portugueses, dada a forte influência árabe na sua colonização. Outrossim, as traduções em português datam do século 17, exata época em que a palavra era muito utilizada em Portugal.
A popularização das religiões afro-brasileiras, fez com que a utilização do homônimo oxalá, fosse gradativamente retirado das traduções, com o intuito de evitar comparações, de modo que ao longo do tempo a palavra, citada 29 vezes nos textos bíblicos, foi sendo gradativamente transmutada para outras interjeições, conforme se observa a seguir.
Observe-se que a bíblia de referência Thompsom aparece em Jeremias 9.1-2 – Oxalá minha cabeça se tornasse em um manancial de águas, e os meus olhos em uma fonte de lágrimas! Então choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo. Oxalá tivesse no deserto uma estalagem de caminhantes! Então deixaria o meu povo e me apartaria dele porque todos são adúlteros e um bando de infiéis. 
Já a versão da Bíblia Revista e Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil escreve da seguinte forma o mesmo texto em Jeremias: Prouvera a Deus a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos, em fonte de lágrimas! Então choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo. Prouvera a Deus eu tivesse no deserto uma estalagem de caminhantes! Entãom deixaria o meu povo e me apartaria dele, porque todos eles são adúlteros, são um bando de traidores.
Ainda em outra tradução, A Bíblia Fiel e também a de Estudo da Mulher, descreve o texto da seguinte forma: Oh! se a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos numa fonte de lágrimas! Então choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo. Oh! se tivesse no deserto uma estalagem de caminhantes! Então deixaria o meu povo, e me apartaria dele, porque todos eles são adúlteros, um bando de aleivosos.
Por fim, não existem riscos na utilização da interjeição nos textos bíblicos, entretanto, por um cuidado maior entre tradutores, tem-se evitado a sua aplicação, o que, de certa forma, desenvolveu a cultura de não se aplica-la em textos ou terminologias bíblicas.
Altamir de Souza
Na visão de multidões 

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