A palavra “oxalá” é o que a língua portuguesa define
como interjeição. Trata-se de uma expressão utilizada para demonstrar sentimentos
e emoções de maneiras diversas aparecendo, em geral, acompanhadas de um ponto
de exclamação ou interrogação, sendo este último mais raro de ocorrer.
A sua utilização ocorre tanto no início como no
final das frases, podendo ser composta de uma palavra ou ainda aparecer no
formato de locução interjetiva quando, neste caso, será composta de duas
palavras.
Dada a maleabilidade da língua portuguesa,
capaz de oferecer ampla exegese, a interjeição aplica-se com especificidade nos
mais diversos momentos frasais, como nos exemplos a seguir.
Alegria: Ah! Oba! Aleluia!
Aprovação: Bravo! Bis! Viva!
Desaprovação: Credo! Sim! Pois não! Tá
Na esfera religiosa encontra-se uma figura de
interjeição cuja prática e utilização por vezes gera espanto entre os leitores.
Trata-se exatamente da grafia “Oxalá”, cuja etimologia encontra origem na
língua árabe, com forte influência na língua portuguesa e tem o significado de:
“Se Deus quiser”.
Neste sentido, observando-se a etimologia (in
xã llãh) de origem árabe não se encontram dificuldades quanto a significância ou
a aplicação da palavra.
Oxalá como termo religioso
Como se sabe, no Brasil, é possível ter palavras
com a mesma pronúncia, porém, com significados diferentes, o que no caso em
questão denomina-se como “palavra homônima”, ou seja, possuindo a mesma
grafia, porém com significados diferentes.
É neste condão onde, por vezes, surgem os
desentendimentos quanto a utilização da palavra oxalá, isto porque ela também é
utilizada como substantivo masculino, representando para a umbanda uma
divindade superior entre os orixás (Orixa-n-la).
Apesar da pronúncia e da grafia, apresentar-se
de forma idêntica (homônima), é certo que a sua aplicação ocorre de formas
dispares, não representando nenhuma ligação entre um e outro, estando inclusive,
separados diante da semântica e da morfologia linguística portuguesa.
Oxalá na bíblia
A bíblia, como se sabe, é um conjunto de
livros, escrito ao longo de dois mil anos e por aproximadamente quarenta
pessoas. Neste sentido, ao longo destes milênios, a sua construção exegética passou
por diversas adaptações aos fatores históricos e sociais relativos ao momento
em que estava sendo escrita.
Neste sentido a grafia oxalá, pode não ser necessariamente
uma transliteração original nos termos aramaicos, hebraicos e gregos, mas sim a
aplicação de uma hermenêutica transliterada ao fim social no qual se pretendia
amoldar o entendimento para um público distinto em uma época ou região.
Neste caso em específico a interjeição oxalá
aparece como uma adaptação exegética utilizada pelos portugueses, dada a forte
influência árabe na sua colonização. Outrossim, as traduções em português datam
do século 17, exata época em que a palavra era muito utilizada em Portugal.
A popularização das religiões afro-brasileiras,
fez com que a utilização do homônimo oxalá, fosse gradativamente retirado das
traduções, com o intuito de evitar comparações, de modo que ao longo do tempo a
palavra, citada 29 vezes nos textos bíblicos, foi sendo gradativamente transmutada
para outras interjeições, conforme se observa a seguir.
Observe-se que a bíblia de referência Thompsom
aparece em Jeremias 9.1-2 – Oxalá minha cabeça se tornasse
em um manancial de águas, e os meus olhos em uma fonte de lágrimas! Então
choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo. Oxalá tivesse
no deserto uma estalagem de caminhantes! Então deixaria o meu povo e me
apartaria dele porque todos são adúlteros e um bando de infiéis.
Já
a versão da Bíblia Revista e Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil escreve
da seguinte forma o mesmo texto em Jeremias: Prouvera a Deus a minha
cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos, em fonte de lágrimas! Então
choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo. Prouvera a
Deus eu tivesse no deserto uma estalagem de caminhantes! Entãom deixaria o meu
povo e me apartaria dele, porque todos eles são adúlteros, são um bando de
traidores.
Ainda em outra tradução, A Bíblia Fiel e também a de Estudo da Mulher, descreve
o texto da seguinte forma: Oh! se a minha cabeça se tornasse em águas, e
os meus olhos numa fonte de lágrimas! Então choraria de dia e de noite os
mortos da filha do meu povo. Oh! se tivesse no deserto uma estalagem de
caminhantes! Então deixaria o meu povo, e me apartaria dele, porque todos eles
são adúlteros, um bando de aleivosos.
Por
fim, não existem riscos na utilização da interjeição nos textos bíblicos,
entretanto, por um cuidado maior entre tradutores, tem-se evitado a sua
aplicação, o que, de certa forma, desenvolveu a cultura de não se aplica-la em
textos ou terminologias bíblicas.
Altamir de Souza
Na visão de multidões
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